Desaparecimento no rio

Zeca, pai de Mariquinha e Toia, não era pescador profissional, mas tinha a canoa como meio de transporte. A pesca era apenas para alimentação de sua família. Em Tijucas, há um enorme rio de mesmo nome que atravessa a cidade. Era comum as casas próximas ao rio serem bem altas ao chão. Nesses porões, os barcos eram guardados, assim como os materiais de pesca. Certo dia, Zeca foi visitar o seu compadre que morava no outro lado do rio. Enquanto lá estava, ele percebeu a aproximação de uma forte tempestade e resolveu voltar logo a sua casa. O compadre e seus amigos disseram a ele para pernoitar na casa deles e evitar os perigos de uma trovoada no rio. Mesmo assim, Zeca quis ir embora logo, a fim de não deixar a sua esposa preocupada. Enquanto remava de volta a sua casa, o tempo mudou rapidamente. O céu enegreceu e os seus amigos assistiam angustiados a luta de Zeca contra o vento, a água agitada e os trovões. Um forte raio atingiu exatamente onde se encontrava Zeca. Seus amigos não conseguiram mais avistá-lo. No outro lado do rio, a mãe das meninas estava muito preocupada e andava pelos cômodos da casa olhando para o rio. Pensou que Zeca tinha resolvido pernoitar na casa do compadre. Já na cama, escutou passos fortes no porão e o barulho dos remos sendo guardados. “Zequinha… É você?” Levantou, chamou por ele e o procurou. Porém, não o achou. “Zeca se foi! Ele veio se despedir!”. Nos dias seguintes, seus amigos procuraram por ele. O seu corpo e os dois remos jamais foram encontrados, apenas a canoa e os chinelos.

Obs.: Mariquinha, filha de Zeca, era minha bisavó paterna.

Sabendo mais

Até o porvir, tia Mag!

Com esse texto, faço a estreia em contar histórias de minha família. Situações que marcam gerações e desejo que elas sejam lembradas e repassadas aos descendentes. São experiências que muito nos ensinam e nos fazem refletir o que somos hoje e o que podemos fazer de melhor na vida. Meu pai amava contar causos de família, assim como seus irmãos e primos. Porém, eles estão partindo e não quero esquecer as suas histórias. Após o falecimento de meu pai e tio em 2019, fiz entrevistas com a tia Senir e a tia Mag. A ideia é escrever e compartilhar os relatos que tanto nos fazem rir, aprender e ficar emocionados. Depois de escrever algumas histórias, as minhas tias fizeram revisão e apontamentos para melhorar os textos. Em abril deste ano, tirei férias e fiquei em Joinville por uma semana. A tia Mag, irmã caçula de meu pai, e minha irmã perguntaram quando e como eu ia compartilhar ou publicar os textos. As histórias estavam corrigidas e prontas, mas tinha dúvida de como divulgar. “Só se for no meu blog…”. As duas gostaram e minha irmã sugeriu abrir uma nova categoria no site. Depois de Joinville, estava em Urubici, quando soube do falecimento de tia Mag, não de coronavírus. Fiquei muito abalada e, ao mesmo tempo, entendi que Deus me deu um baita privilégio de conviver com a tia Mag por uma semana antes de sua despedida. Porém, demorei para fazer a estreia que é uma homenagem à tia Mag, uma das entrevistadas de histórias de família.

Tijucas é a cidade de origem de grande parte da família de meu pai. A união entre o bisavô Thomaz e a bisavó Mariquinha foi o primeiro casamento civil registrado em Tijucas. Os dois eram primos e órfãos. Foram cuidados por padrinhos, sendo que o bisavô Thomaz morava em Nova Trento e a bisavó Mariquinha em Tijucas. Ela tinha 16 anos de idade e ele 21 quando se casaram. Não conheci os meus bisavôs, mas eles vivem em mim por causa das histórias de família.

Tive oportunidades de conhecer Tijucas e Nova Trento por meio da bicicleta. Viram só? Até a bike me leva a lugares onde viveram meus antepassados! Passar por essas regiões me deram um forte impacto, deixando o meu corpo arrepiado e a minha mente em êxtase por ver regiões tão belas. Nada é por acaso. As histórias de minha família, mesmo que não saiba de tudo em detalhes, estão em meu ser.

Pedalando no interior de Tijucas em 20/10/2018. Foto: Josiane Ferretti
Ao fundo, a cidade de Nova Trento, durante subida do Morro da Cruz em 22/10/2017. Foto: Luciana Vieira

Histórias de família

Luciana Vieira Visualizar tudo →

Blog que compartilha a minha alegria em pedalar. Evidente que não há só alegria, porque sabemos muito bem que o nosso país não valoriza os ciclistas. Melhor dizer: não pensa em todas as pessoas como os pedestres, os cadeirantes e os idosos. Além das experiências de minha vida como ciclista, este espaço trata sobre outros temas, mesmo não tendo relação com a bike. Dou um alerta: o fato de gostar de pedalar não significa que sou especialista nessa temática. Aqui são histórias, opiniões, relatos, o que vier da minha mente e eu julgar interessante de contar. Na primeira postagem deste blog, convido a ler sobre o motivo de se chamar Aquela que pedala. Quem escreve? Sou a Luciana Vieira, tenho deficiência auditiva e moro em Florianópolis/SC. Atuo como assistente administrativa em empresa federal de energia elétrica e, desde 2013, procuro usar a bicicleta para me deslocar ao trabalho. Comunicação Social com habilitação em Jornalismo é a minha formação acadêmica e não exerço a profissão. Sempre gostei de escrever e já tive o prazer de dar uma de escritora em blogs de amigos como o Máquina de Letras. Mais segura em escrever e expor no meio virtual, decidi ter o meu próprio cantinho. E assim Aquela que pedala vem a ser a varanda de meus escritos. Sugestões, opiniões, críticas? Escreva para o e-mail aquelaquepedala@gmail.com

22 comentários Deixe um comentário

  1. Amei ler este texto,ouvi esta história contada pela vó Mariquinha.Lendo,me vi sentada na cozinha da vó acompanhada da Mag,ouvindo ela falar,éramos crianças de 11 e 10 anos.
    Quantas saudades,da vó,da tia Belinha e da Mag,bons tempos!!

    • Que bom que você gostou, Dinorá. Fico feliz em saber que você viajou na lembrança de quando vó Mariquinha contava esta história. Que privilégio você e tia Mag tiveram! Graças a vocês, os descendentes conheceram, sendo eu um deles, essa mesma história.

  2. Ah Luciana,
    Você como sempre encantadora como pessoa e na sua forma de se expressar…adorei sua idéia…acho importante esse resgate..sempre gostei! Parabéns! E sinto muito por suas perdas….
    Bjs!

  3. Parabéns, Lu!

    Muito importante esse legado que ouvia das Tias e Primos e agora posso ler e viajar nas lembranças escritas e descritas por ti.

    O que achas de mais tarde um Livro?
    Quero ir nesse lançamento, hein?

    Sucesso, Prima Amada!

  4. Olá Luciana, aqui é o primo Wilson de Brasília! Quantas vezes não escutei essa história dos remos arrastados embaixo da casa na cozinha da vó Mariquinha, contada por ela em pessoa. Vovó adorava contar histórias assim, “aterradoras”, para os netos que a ouviam de cabelo em pé! kkkk… quanta saudade!!! Jair, Mag, Débora… Parabéns pela bela iniciativa, conte-nos mais!!!

  5. Muito bom Luciana, eu escutava tantas histórias do pai. Quando juntava então tio Nahor o teu pai e o meu, o paulinho o tio Demerval…pena que na época não pensávamos em registrar essas histórias…
    Parabéns por essa iniciativa..um grande abraço

    • Que bom que gostou, Kathya! Era tão bom vê-los e ouvi-los, como eles se gostavam! Sim, é uma pena não termos registrados na época e eu queria ter um monte de fotos. Um grande abraço pra você também.

  6. Lu. Eu me emocionei lendo sua história. Acho que você já tinha contado ela para nós, pois me parece familiar. Sei o quão importante são esses resgates familiares, pois estou vivenciando isso há algum tempo, como você sabe. E você faz muito bem em compartilhar no seu blog para que as futuras gerações da família conheçam seu passado e suas raízes. E certamente serão gratas à tia Lu por ter essa iniciativa.

    • Fico feliz em saber que gostou, Juliana. Continue com o resgate de sua família, pois você vai descobrir mais coisas interessantes. É tão bom dar um mergulho na história de nossas vidas!

  7. Oi Lu.
    Você escreve muito bem.
    Amei ler tuas histórias.
    Bem redigidas. Objetivas. Afetivas. Simplicidade acima de tudo.
    Nunca pare de escrever. Parabéns.
    Amo tu beijos.

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