A ponte que não cai

Ela é fascinante. Graças a ela, vou até o outro lado do caminho. Está diante de meus olhos e preparada para a minha passagem. “Ui, Luciana, do que você está falando?” Da ponte. Pode ser larga ou estreita, comprida ou curta, feita de madeira, aço, concreto, entre outros materiais. O meu fascínio é mais pelo seu propósito do que pela sua beleza e engenhosidade. Unir dois pontos separados e, consequentemente, oferecer passagem de um lugar a outro de forma segura e rápida.

Em Florianópolis, há três enormes pontes que unem o continente e a ilha de Santa Catarina. A mais antiga se chama Hercílio Luz e é considerada um dos cartões postais da cidade, de valor cultural e arquitetônico. Começou a ser construída em 1922 e foi inaugurada em 1926. Hercílio Luz era o governador do estado de Santa Catarina na época, sendo também engenheiro e idealizador da obra. Faleceu antes de vê-la concluída. Iria se chamar Ponte da Independência, ganhou novo nome em sua homenagem. É uma ponte pênsil de aço com vão central de 339 metros e extensão total de 821 metros. Em função da deterioração das barras de olhal (sustentam a parte superior em cada lado da ponte, a partir do vão central), foi interditada em 1982. Em 1988, houve reabertura para tráfego de pedestres, bicicletas, motocicletas e carroças. Voltou a ser interditada em 1991. A partir daí, houve muitas enrolações. Dói o meu estômago só de pensar que teve corrupção. Quase não acreditei quando ela foi reaberta em dezembro de 2019. Na primeira vez que a atravessei, não consegui curti-la em meio a tantas pessoas ao meu redor e tive tontura.

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Pedal de um dia de 2012. Vista da ponte da ilha para o continente. Foto: Luciana Vieira
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Entardecer espetacular durante o pedal! Vista da ponte da ilha para o continente em 04/05/2014. Foto: Luciana Vieira
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Passeio de bike em 02/08/2015. Vista da ponte do continente para a ilha. Foto: Luciana Vieira
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Enfim, ponte reaberta! Havia muita gente no dia 05/01/2020 e não consegui curtir o passeio. Foto: Luciana Vieira

Agarrei a oportunidade de ser voluntária de um projeto da Prefeitura de Florianópolis na Ponte Hercílio Luz com a minha bicicleta. Só a bike mesmo para me dar mais uma felicidade como essa. O projeto que participei se chama Ponte Viva, com o objetivo de comparar o espaço utilizado na ponte para transportar o mesmo número de pessoas nestes modais: a pé, por bicicleta, transporte coletivo e transporte individual motorizado. Então, na manhã do dia 27 de janeiro de 2020, fui uma sorridente ciclista a apreciar e ver de perto cada detalhe da ponte revitalizada, com tranquilidade e em menor número de pessoas no local. Além da ponte, o seu entorno também recebeu melhorias. Apesar da sua beleza, eu ainda a vejo como símbolo da corrupção. Não quero me esquecer de sua história. Ela está aí para lembrarmos que devemos ficar vigilantes com as ações de nossos representantes públicos. Que sejamos honestos e justos!

Ah, ponte, ponte… De qualquer modo, ela me fascina.

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Ciclistas voluntários no projeto Ponte Viva. Foto: Luciana Vieira

Pela primeira vez no Brasil, vivemos em isolamento social em função do coronavírus. Ninguém tem experiência em lidar com a pandemia. Quando há algo que nos causa preocupação, o bom senso deve prevalecer em todas as situações de vida. Mentiras, brigas, histerias e calúnias deveriam ser ações raras. Que tal nos esforçarmos em falar e agir mostrando soluções? Antes de apontar o dedo para alguém, vamos nos olhar? Pensar nos dedos que estão apontados para nós?  Vamos ter cautela, atenção e paciência, e buscar sabedoria. As doenças sempre fizeram parte da história da humanidade. Muitas possuem vacinas e tratamentos médicos. Não faz muito tempo que vivenciamos o avanço das doenças como gripe aviária, gripe suína, vaca louca e H1N1.  Outras que estavam controladas ou havia poucas ocorrências, voltaram a aparecer com mais frequência como a dengue, a febre amarela e o sarampo. O que está acontecendo conosco? O momento é de reflexão. Rever nossos conceitos, objetivos, rotinas, atitudes e ações.

“Ô Lu! O que a ponte tem a ver com o coronavírus?” Tudo a ver. A finalidade dela é juntar dois lugares separados para que possamos passar por ela? Então, vamos ser como a ponte em todo o tempo, não apenas agora com a pandemia. O amor e o respeito são os materiais primordiais para a nossa ponte com o propósito de unir uma pessoa a outra. Quando temos essa ponte, florescem o carinho, a paz, a alegria e a fraternidade em nosso entorno. Se permitirmos o egoísmo, o ódio e a inveja entrarem em nosso ser, a ponte cai. Vamos tentar ser uma que não cai? Balança, mas não cai?

Apesar de nossas falhas constantes, conheço uma ponte perfeita e que nunca precisa de manutenções. Ela me aproxima de Deus. “Que ponte é essa, Lu?”. Ela se chama Jesus Cristo, o elo que oferece nossa passagem até Deus. Você crê nisso? Caso contrário, qual é a sua crença? Acredita em vida depois da morte? Reflita neste momento que estamos em quarentena. Mesmo com pensamentos diferentes, vamos tentar ser uma ponte onde prevaleça o amor e o respeito?

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Que a ponte seja bem cuidada e receba manutenções constantes. Foto: Luciana Vieira

Sabendo mais

Um dos filmes marcantes que assisti na infância foi “A Ponte do Rio Kwai”, de 1957, dirigido por David Lean (o mesmo de “Lawrence da Arábia” e “Doutor Jivago”).  A história é fascinante e a trilha sonora, sensacional. A minha cena inesquecível é a marcha dos soldados britânicos assobiando… Que som arrepiante! Adoro ouvir músicas instrumentais e clássicas! A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando os prisioneiros britânicos recebem dos japoneses a tarefa de construir uma ponte sobre o Rio Kwai, em plena selva na Tailândia. Não entro em detalhes sobre o enredo para não estragar a surpresa. Para quem não assistiu, não perca tempo. Quem já viu, vale muito a pena revê-lo. O filme é um excelente convite para reflexão.

Reflexões

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Blog que compartilha a minha alegria em pedalar. Evidente que não há só alegria, porque sabemos muito bem que o nosso país não valoriza os ciclistas. Melhor dizer: não pensa em todas as pessoas como os pedestres, os cadeirantes e os idosos. Além das experiências de minha vida como ciclista, este espaço trata sobre outros temas, mesmo não tendo relação com a bike. Dou um alerta: o fato de gostar de pedalar não significa que sou especialista nessa temática. Aqui são histórias, opiniões, relatos, o que vier da minha mente e eu julgar interessante de contar. Na primeira postagem deste blog, convido a ler sobre o motivo de se chamar Aquela que pedala. Quem escreve? Sou a Luciana Vieira, tenho deficiência auditiva e moro em Florianópolis/SC. Atuo como assistente administrativa em empresa federal de energia elétrica e, desde 2013, procuro usar a bicicleta para me deslocar ao trabalho. Comunicação Social com habilitação em Jornalismo é a minha formação acadêmica e não exerço a profissão. Sempre gostei de escrever e já tive o prazer de dar uma de escritora em blogs de amigos como o Máquina de Letras. Mais segura em escrever e expor no meio virtual, decidi ter o meu próprio cantinho. E assim Aquela que pedala vem a ser a varanda de meus escritos. Sugestões, opiniões, críticas? Escreva para o e-mail aquelaquepedala@gmail.com

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