Serra do Rio do Rastro

Nunca tinha ido até ela. De qualquer modo, meus olhos brilhavam ao ver a sua imagem… Escutar a menção de “Serra do Rio do Rastro” era música para os meus ouvidos…  Ela fica entre os municípios de Lauro Müller e Bom Jardim da Serra, no sul de Santa Catarina. No ano passado, eu tive a oportunidade de conhecer esse lugar espetacular.

A serra tem cerca de 34 quilômetros, altitude de 1.421 metros e muitas curvas. A abertura do caminho começou em 1870 para que os primeiros habitantes da região pudessem ir até o Porto de Laguna trazer os gêneros de primeira necessidade. Hoje a estrada é iluminada e pavimentada, sendo parte dela de asfalto e a outra, de concreto. Antes de continuar esta leitura, convido a assistir este vídeo de Luiz Gerbase a fim de se ter uma ideia de como é a Serra do Rio do Rastro clicando neste endereço: https://www.youtube.com/watch?v=785f6ELfiVw

É uma serra apaixonante. No ponto mais alto há um enorme mirante, em Bom Jardim da Serra, que possibilita ver as curvas, os entornos, a mata, a água escorrendo abaixo. Uma visão completa e esplêndida do lugar! Tive a feliz oportunidade de ir no ônibus fretado com um grupo de pessoas que gostam de caminhar, fotografar e estar junto à natureza no dia 23 de maio de 2015. Em Lauro Müller e um pouco antes de subir a Serra do Rio do Rastro, minha mente disparou: “Lu, imagine como é pedalar por aqui!” Afinal, já sabia de pessoas que subiram pedalando a serra e há uma competição anual conhecida como “Desafio Serra do Rio do Rastro”. Enquanto o ônibus subia, eu olhava a região da janela e, ao mesmo tempo, vinha imaginando como seria pedalar por ali. Não tem ciclovia, nem ciclofaixa. Há acostamento em alguns trechos. Os veículos motorizados devem transitar com baixa velocidade, em função de ser íngreme e com muitas curvas. Quando dois veículos de grande porte se cruzam em sentido contrário numa curva, um deve parar para que o outro possa prosseguir, pois não há espaço suficiente para passarem ao mesmo tempo.

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Primeira vez na Serra do Rio do Rastro. Foto: Luciana Vieira

Já de dentro do ônibus se formou o meu sonho de pedalar a Serra do Rio Rastro! Eu quero fazer isso!  Não esperava que a concretização desse sonho viesse logo. Na terça-feira do dia 23 de fevereiro de 2016 recebi a ligação de um amigo me convidando para pedalar na Serra do Rio do Rastro no sábado. Convite logo aceito! Fiquei muito feliz e, ao mesmo tempo, apreensiva. Será que eu dou conta? Procurei não pensar muito nas dificuldades para não sofrer com antecedência. Então, na manhã do dia 27 de fevereiro, estávamos a caminho da imponente Serra do Rio do Rastro!

Deixamos os carros no estacionamento da Pousada Rural e Restaurante Redivo, que fica ao lado de um posto de gasolina e perto da Polícia Rodoviária, no distrito de Guatá, pertencente ao município de Lauro Müller. Arrumamos as nossas bicicletas e nos preparamos para a empreitada. Estávamos prontos: três mulheres, três homens e um destino!

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Prontos para subir! Foto: Osdair Ferreira

O dia começou ensolarado e muito quente. Enquanto estávamos no carro em direção ao sul de Santa Catarina, conseguíamos ver a Serra do Rio do Rastro de longe em algumas regiões. Agora estávamos pedalando olhando de frente para ela! Controlei as minhas emoções. Precisava ficar atenta ao trânsito, pois dividimos o espaço com os veículos motorizados. Não tivemos problemas com os motoristas, pois todos nos respeitaram passando devagar e não ficando muito próximo da gente. Apenas um motorista passou em alta velocidade, mas longe de nós.

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Subindo, subindo, subindo… Foto: Henrique Bente

Cruzamos com muitos ciclistas treinando para o Desafio Serra do Rio do Rastro que aconteceu no dia 6 de março. Talvez um dia participe desse desafio. O evento estava em sua sexta edição e, durante a prova, a estrada foi fechada para os veículos motorizados. Fiquei imaginando a serra sem carros. Deve ser mais tranquilo subir pedalando.

O forte calor dificultou muito a subida. Uma amiga precisou desistir e o seu companheiro foi junto com ela de volta ao carro que ficou no Restaurante Redivo. Depois, os dois nos alcançaram e nos acompanharam de carro. Fizemos várias paradas para hidratação e alimentação. Alguns trechos escorria água do morro. Paramos para pegar essa água deliciosa e gelada. Outra amiga também precisou parar de subir pedalando. Ela e a bike entraram no carro do casal de amigos. “Como vocês dois são mais rápidos do que eu na subida, posso continuar, enquanto vocês ajudam a colocar a bicicleta no carro?” Com a autorização deles, lá fui eu sozinha.

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Eu quero chegar lá! Foto: Marcos de Oliveira

Subindo eu vou. Só subindo, subindo, subindo… Enquanto subia, apesar do calor e do cansaço, eu consegui curtir a natureza em minha volta. Um espetáculo! Olhava para trás e via o quanto já tinha subido. Olhava para frente e via o quanto ainda precisava subir. Não fiquei com vontade de desistir ao ver que tinha muito chão pela frente. Aproveitei para analisar os veículos transitando morro acima. “Ah, um baita caminhão ali. Acho que quando eu estiver naquela altura, vou cruzar com aquele caminhão”. Além de ciclistas, havia muitos grupos de motociclistas. Eles e muitos motoristas passaram por nós dando palavras de encorajamento e incentivo. Opa, opa! Uma placa e estou chegando ao mirante de Bom Jardim da Serra! O calor já não me atingia ali, pois o clima era outro, mais ameno. Cheguei, cheguei!  Suada, cansada e muito emocionada! Logo chegaram os dois amigos que me acompanharam de longe. “Nós víamos um ponto cor de rosa de cima”. Era a cor da minha camisa. Então, comemoramos e agradecemos muito!

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Cheguei! Louvado seja Deus! Foto: Osdair Ferreira

Curtimos muito a vista maravilhosa no alto do mirante. Vimos muitos quatis e até um guaxaim do campo. Almoçamos no Café e Restaurante Mensageiro da Montanha. Comida deliciosa! É desse lugar que considero a melhor coxinha que comi em toda a minha vida! Conversamos e relaxamos por um tempo. Descer não é difícil, mas requer muitos cuidados. Usamos o corta vento durante a descida e… Ah, vento na cara que adoro! Quando chegamos ao ponto onde estavam os carros, começou a chover. Partimos de volta para Florianópolis. Não, o nosso passeio não terminou ainda! Com a sugestão de um dos amigos, paramos no Hotel Termal, no município de Gravatal. Lá cada um de nós tomou banho com águas termais! Eu me senti como uma rainha numa banheira enorme! O melhor banho da minha vida! Depois do banho revigorante, fomos tomar um delicioso café no centro da graciosa cidade de Gravatal. Agora sim, estávamos dispostos a voltar para Florianópolis!

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No mirante de Bom Jardim da Serra. Foto: Osdair Ferreira
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No Hotel Termas, onde tomamos um banho revigorante.
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Café em Gravatal antes de voltar para Floripa. Foto: Henrique Bente

Deus me deu a força e a persistência para pedalar na Serra do Rio do Rastro na companhia de bons amigos! Esse dia foi mágico! Sonho realizado! Quero voltar mais vezes lá! E não demorou muito! Fizemos um pedal noturno com mais amigos ciclistas no sábado de 19 de março de 2016. A iluminação na Serra do Rio do Rastro é muito linda e queria ter essa experiência de fazer à noite. Quando começamos a pedalar, logo caiu uma chuva fina. De vez em quando, a chuva engrossava. Muitos trechos estavam sem iluminação… Ah, deu um frio na barriga! Esperávamos encontrar a serra toda iluminada…

Em alguns trechos, pedalei sozinha. Refleti muito sobre a minha vida. A chuva que caia e a escuridão traduziram o meu estado de espírito. Estava passando por um momento difícil naquela ocasião. Conversei com o meu bom Deus e pedi a sua ajuda. Quando a luz aparecia, eu entendi que os meus problemas se resolveriam. Depois vinha a escuridão de novo. A luz aparecia novamente. A vida da gente é assim mesmo. Há momentos escuros e outros, claros. Ruins e bons. Tristes e alegres. Não há escapatória. Todos têm os seus problemas. Precisamos olhar para os nossos problemas e dizer que desejamos resolvê-los, sempre com o auxílio de Deus.

Tive menos dificuldade de pedalar na subida do que na primeira vez. Não tinha o calor. Subi quase sem parar. Apenas parei para tomar água. Fiquei em êxtase por concluir a subida na Serra do Rio do Rastro pela segunda vez! No alto do mirante de Bom Jardim da Serra, estava frio. Enquanto aguardávamos a chegada de todos os amigos ciclistas, dançamos e brincamos a fim de espantar o frio. Um policial rodoviário preocupado se aproximou da gente e deu recomendações de descer com segurança. Como era noite, os estabelecimentos comerciais do mirante estavam fechados. A descida foi maravilhosa e ao som de músicas que saía da caixa de som da bicicleta de um ciclista. Chegamos ao Restaurante Redivo, onde tivemos um delicioso jantar e um divertido bate papo!

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No mirante de Bom Jardim da Serra, após a conclusão da subida. Foto: Fabricio Sousa

Obrigada, Senhor, pelos amigos que foram comigo pedalando na Serra do Rio do Rastro! E também pelas minhas idas ao Morro da Cruz, no centro de Florianópolis, que já contei neste blog. Sempre digo aos meus amigos que o Morro da Cruz é um excelente treino para encarar os morros da vida!

Eu fui até ela! Mesmo assim, meus olhos ainda brilham ao ver a sua imagem… Escutar a menção de “Serra do Rio do Rastro” ainda é música para os meus ouvidos…  Agora tenho a felicidade de ter ido pra lá, guardo doces lembranças e sonho em voltar mais vezes.

Serra do Rio do Rastro

Luciana Vieira Visualizar tudo →

Blog que compartilha a minha alegria em pedalar. Evidente que não há só alegria, porque sabemos muito bem que o nosso país não valoriza os ciclistas. Melhor dizer: não pensa em todas as pessoas como os pedestres, os cadeirantes e os idosos. Além das experiências de minha vida como ciclista, este espaço trata sobre outros temas, mesmo não tendo relação com a bike. Dou um alerta: o fato de gostar de pedalar não significa que sou especialista nessa temática. Aqui são histórias, opiniões, relatos, o que vier da minha mente e eu julgar interessante de contar. Na primeira postagem deste blog, convido a ler sobre o motivo de se chamar Aquela que pedala. Quem escreve? Sou a Luciana Vieira, tenho deficiência auditiva e moro em Florianópolis/SC. Atuo como assistente administrativa em empresa federal de energia elétrica e, desde 2013, procuro usar a bicicleta para me deslocar ao trabalho. Comunicação Social com habilitação em Jornalismo é a minha formação acadêmica e não exerço a profissão. Sempre gostei de escrever e já tive o prazer de dar uma de escritora em blogs de amigos como o Máquina de Letras. Mais segura em escrever e expor no meio virtual, decidi ter o meu próprio cantinho. E assim Aquela que pedala vem a ser a varanda de meus escritos. Sugestões, opiniões, críticas? Escreva para o e-mail aquelaquepedala@gmail.com

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