Urubici, Urubici!

A minha mãe sempre gostou do frio. Quando via na televisão ou ouvia que as cidades de Urubici, Urupema e São Joaquim registravam temperaturas baixas ou abaixo de zero grau, ela dizia: “eu queria morar lá”. Eu não gostava do frio… Hoje, eu gosto. Sim, eu mudei. Fui mudando quando comecei a fazer trilhas pelas montanhas da Grande Florianópolis. O que me fez mudar para valer foi… Ah, adivinhem! Sim, a bicicleta! Descobri que não fico com muito frio quando pedalo. Lembram-se do inverno de 2013? Dos dias gelados? Teve até neve nas cidades próximas de Florianópolis? Não me afastei da bike. É só usar a roupa adequada e sempre alongar o corpo antes e depois do pedal.

Então, desde criança, ouvia sobre Urubici ser uma das cidades mais frias de Santa Catarina. Quando passei a morar em Florianópolis, conheci muitas pessoas que adoram Urubici e algumas delas com sonho de morar lá. Dava para perceber o brilho em seus olhos ao falarem dos encantos da cidade. Fiquei com muita vontade de conhecê-la. Em dezembro de 2014, fui pela primeira vez pra lá! E de bike!

Soube que a Caminhos do Sertão, empresa de cicloturismo de Florianópolis, oferece roteiros para pedalar em Urubici. Ah, não pensei duas vezes! O passeio aconteceu em quatro dias, de 27 a 30 de dezembro de 2014, e ficamos hospedados no Sítio Arroio da Serra. Cavalos, árvores, sendo a maioria araucárias, rio no outro lado da estrada, cabanas de madeira aconchegantes, comidas caseiras deliciosas e feitas com carinho… Ah, não tinha o que reclamar! Do que mais gostei? Da família do sítio! Eu me senti em casa. Parece que fui convidada pela família para passar uns dias por lá. O clima estava agradável e precisei usar casaco à noite. Conheci ciclistas de diversos lugares do Brasil e foi muito boa a nossa convivência.

No primeiro dia, pedalamos pelo centro da cidade e pela região da Cascata do Avencal, em trajeto de cerca de 20 km. Pegamos chuva, mas ela não atrapalhou o nosso passeio. O centro da cidade não é muito atraente, mas os moradores podem embelezá-lo junto com seus governantes. As ruas são largas, o que achei excelente. A Cascata do Avencal é linda e tivemos um café colonial gostoso em propriedade particular. A maior parte do pedal foi em estradas de terra. Já no centro de Urubici, trecho de asfalto e calçamento. Como optei por retornar ao local de nossa hospedagem pedalando, o percurso total deu 40 km no primeiro dia.

01.Urubici_Centro_Luciana_Vieira
Igreja no centro de Urubici. Foto: Luciana Vieira

No segundo dia e na parte da manhã, fomos para o Caminho do Invernador e o Rio dos Bugres. Paramos no Sítio Beckhauser a fim de saborear o seu café colonial. Hum, delícia! Conhecemos várias plantações como as de beterraba e de morango. Também o seu museu com objetos e maquinários antigos. Observamos o rio Canoas atrás da propriedade. A pousada é infestada de flores! Luluzinha não parava de registrá-las em sua máquina fotográfica! No período da tarde, pedalamos até a Gruta Nossa Senhora de Lourdes. Um lugar que mexeu com as minhas emoções. Vi muitas fotos de pessoas depositadas ali. Qual a história de cada uma delas? Além das fotografias, muitas bengalas e até bota ortopédica foram deixadas nas pedras. É um lugar de agradecimento, de implorar por ajuda, de pagar promessas… Até chegar à gruta, pedalamos por 30 km e decidi continuar indo de bike para voltar ao nosso sítio acolhedor. Então, o total de percurso nesse dia foi de 50 km.

03.Urubici_Sitio_Beckhauser_Luciana_Vieira
Posto dos Correios no Sítio Beckhauser que me fez lembrar de quando fui uma feliz empregada das cartas.

No terceiro dia, conheci dois atrativos mais famosos de Urubici: Morro da Igreja e Serra do Corvo Branco. Uau! Todos os dias antes de partir para o pedal, a equipe da Caminhos do Sertão nos dava orientações e avisos. Explicou como era o Morro da Igreja, com altitude de 1.822 metros! Eu não tinha preparo físico para subir. Apenas três homens decidiram encarar a subida. Para isso, saíram mais cedo do sítio que os demais ciclistas. Fomos de van até o Morro da Igreja e vimos o quanto é difícil a subida, mas com estrada boa e asfaltada. Não demorou muito para avistarmos onde se encontrava cada ciclista. Chegando ao fim do Morro da Igreja… Opa, que lugar é este? Espetacular! O que estou vendo? Sim, a Pedra Furada! O clima mudava constantemente. Fiquei o tempo todo no “tira e coloca casaco”. E logo apareceu o primeiro homem a concluir a subida do nosso grupo! Que emoção! Muitos aplausos! Depois chegaram os demais. Os três conseguiram concluir a empreitada!

04.Urubici_Pedra_Furada_Aquela_que_pedala
Pedra Furada no Morro da Igreja, com a querida e divertida Fernanda Klein.
05.Urubici_Morro_da_Igreja_Luciana_Vieira

Na descida do Morro da Igreja, todos foram com as suas bicicletas. Com vento na cara que adoro! Uma descida bem longa! Ah, mais um café colonial saboroso! Desta vez foi no Sabor da Roça. Dali partimos para a Serra do Corvo Branco. Não foi fácil pedalar em estrada cheia de cascalhos. Não passamos por toda a serra, pois havia obras. O percurso total do terceiro dia deu 53 km, incluindo a minha opção de voltar de bike à pousada Arroio da Serra.

06.Urubici_Serra_do_Corvo_Branco_Aquela_que_pedala

No quarto e último dia, pedalamos até o Morro do Campestre e o Rio Sete Quedas. Para chegar ao Morro do Campestre, é preciso entrar na Fazenda Morro da Cruz, propriedade particular. Observei o lugar e optei por caminhar em vez de pedalar. Deixei a minha bicicleta no início do morro e segui caminhando. Pude contemplar toda a redondeza e, ao alcançar o cume do monte, fiquei admirada com a existência de tantas pedras grandes e formações rochosas. Ali tem o que alguns a chamam de Pedra Furada II. A do Morro da Igreja a vemos de longe. A do Campestre está na nossa frente. Podemos tocá-la e passar por ela. Encontrei uma pedra convidativa e me sentei nela. Gostei da vista que ela me proporcionava e fiquei um bom tempo olhando e relaxando. Depois pedalamos até a Cachoeira do Rio Sete Quedas, última parte do passeio. Caminhamos até a segunda queda e nos banhamos. Ui, que água gelada! Nesse último dia, o trajeto total de pedal resultou em 19 km.

07.Urubici_Morro_do_Campestre_Aquela_que_pedala
Pedra Furada II no Morro do Campestre.

Foram dias maravilhosos e já com o desejo de voltar para Urubici. E não demorou muito!  Em fevereiro de 2015, durante o feriado de carnaval, estava novamente em Urubici repetindo o mesmo passeio com a Caminhos do Sertão. E com novidade! Na primeira vez, fui com a Serena, minha bicicleta de 21 marchas. Na segunda, levei a Urian, de 27 marchas. Hoje Serena vai comigo ao trabalho e Urian nos pedais mais longos. Serena tem esse nome por me deixar calma, tranquila e disposta para encarar o dia a dia. Urian é homenagem minha à Urubici por possuir inúmeras belezas naturais encantadoras e fascinantes. Deriva de Urias, que foi soldado do rei Davi, descrito no Velho Testamento da Bíblia, e seu significado em hebraico é “em Deus existe luz” ou “o Senhor é a minha luz”. Com a Urian, consegui subir todos os morros de Urubici por onde passei sem precisar empurrar a bike, exceto o Morro da Igreja.

08.Urubici_Serena_Luciana_Vieira
Serena. Foto: Luciana Vieira
02.Urubici_Urian_Luciana_Vieira
Urian. Foto: Luciana Vieira

Conheci novas pessoas na minha segunda ida à Urubici. Ninguém subiu o Morro da Igreja e não conseguimos ver a Pedra Furada em função do forte nevoeiro. No entanto, conhecemos o Vale dos Sonhos, com jardim bem cuidado e pequeno restaurante de comida natural e vegetariana. Maravilhoso o lugar! Quando fomos à Cachoeira do Rio Sete Quedas, no último dia de pedal e sendo o último roteiro, em vez de me banhar, preferi retornar pedalando para a pousada. Pude fazer isso com tranquilidade e curtindo a natureza em minha volta.  Quando avisei a minha mãe por mensagem de celular de minha chegada em Urubici, ela respondeu achando que o passeio tinha sido cancelado, pois o litoral todo estava chovendo.  Não choveu nenhum dia em Urubici! Quando voltávamos para o litoral catarinense, ainda caía a chuva.

Urubici sempre esteve perto de mim, pretendo retornar mais vezes e há dois sonhos que desejo realizar lá: subir pedalando o Morro da Igreja e fazer o pedal completo na Serra do Corvo Branco. Este texto tem o título de “Urubici, Urubici!”, porque pedalei lá em duas épocas diferentes. Agora espero pelo “Urubici, Urubici, Urubici!”.

Urubici, qual o seu significado? No site da Acolhida da Colônia diz assim:

A origem do nome do município, segundo descrição de exploradores, é de um silvícola que acompanhava uma das expedições e encontrou um pássaro morto às margens de um rio, então exclamou “Urubici”, querendo dizer “Olhe ali um uru, Bici” — URU (ave galinácea do Brasil, típica dessas paragens) — BICI (nome de seu colega indígena).

Todas as pousadas por onde passamos, inclusive a de nossa hospedagem, fazem parte da Acolhida na Colônia que contei no post “Pedalando nas encostas da Serra Geral”.

Urubici tem tudo a ver com bicicleta. Urubicicleta!

09.Urubici__Pedra_Furada_Luciana_Vieira
Sonho de ir de novo. Foto: Luciana Vieira

Urubici

Luciana Vieira Visualizar tudo →

Blog que compartilha a minha alegria em pedalar. Evidente que não há só alegria, porque sabemos muito bem que o nosso país não valoriza os ciclistas. Melhor dizer: não pensa em todas as pessoas como os pedestres, os cadeirantes e os idosos. Além das experiências de minha vida como ciclista, este espaço trata sobre outros temas, mesmo não tendo relação com a bike. Dou um alerta: o fato de gostar de pedalar não significa que sou especialista nessa temática. Aqui são histórias, opiniões, relatos, o que vier da minha mente e eu julgar interessante de contar. Na primeira postagem deste blog, convido a ler sobre o motivo de se chamar Aquela que pedala. Quem escreve? Sou a Luciana Vieira, tenho deficiência auditiva e moro em Florianópolis/SC. Atuo como assistente administrativa em empresa federal de energia elétrica e, desde 2013, procuro usar a bicicleta para me deslocar ao trabalho. Comunicação Social com habilitação em Jornalismo é a minha formação acadêmica e não exerço a profissão. Sempre gostei de escrever e já tive o prazer de dar uma de escritora em blogs de amigos como o Máquina de Letras. Mais segura em escrever e expor no meio virtual, decidi ter o meu próprio cantinho. E assim Aquela que pedala vem a ser a varanda de meus escritos. Sugestões, opiniões, críticas? Escreva para o e-mail aquelaquepedala@gmail.com

11 comentários Deixe um comentário

  1. Legal né Lu?! Parabéns pela coragem mulher! Te admiro! Também quero muito muito subir o Morro da Igreja e a Serra do corvo Branco pedalando. Espero que a gente consiga realizar esses feitos muito em breve! Beijos!

  2. Gosto muito da sua forma de escrever, do seu estilo de curtir o pedal, as bikes, como também das lindas fotos que posta. Parabéns! Continue sempre assim. Beijos no seu coração.

  3. LU! tbm pretendo voltar la! belissima sua descrição sobre nossos 4dias em urubici! !conheci pesoas fantásticas as quais tenho guardadas em meu coração! Grande beijo

  4. Está cada vez melhor! Gostei de tudo o que você escreveu. As fotos são lindas. Ainda não sabia que as bicicletas tinham nome, mas gostei deles e do que significam. Beijos

Deixe um comentário para ReginaLu Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *